Reportagem de Caio Vinícius Gabrig Turbay,
Produzida para a Agência de Notícias da Universidade Federal do Sul da Bahia
O caminho é curto, cerca de trezentos metros sob a sombra de grandes árvores. O dossel atinge quinze, vinte metros de altura. Nos galhos que se abrem para os lados, bromélias crescem majestosas. Os raios do sol da manhã rompem o escudo verde e se projetam até o chão, iluminando os rastros que as formigas cortadeiras deixaram durante noite. Saltando entre as árvores, dois guigós, um macaco ameaçado da Mata Atlântica, espreitam e emitem gritos, avisando seus companheiros de bando sobre a presença de intrusos. De repente um som rompe a calmaria da mata. Mais à frente, no entroncamento com uma estrada empoeirada e mal conservada, um grupo de turistas em quadriciclos pára e observa o chão. Algo chamou a atenção deles: uma preguiça solitária, tentando chegar rapidamente à mata do outro lado da estrada, se arrasta entre entulhos de obra e o lixo espalhados pelo caminho. Estou na Trilha Ecológica, um dos acessos que ligam o centro de Arraial D’Ajuda, Porto Seguro, BA, a um de seus bairros novos, conhecido como Alto da Pitinga.
A cena da preguiça não é incomum. Apesar de curiosa, topar com cachorros-do-mato, veados ou até mesmo onças pardas em locais impactados pelo homem, não são sinais de natureza intocada como muitos pensam. Ao contrário, são indícios de que esses animais estão sendo despejados de suas casas e tentam viver entre fragmentos florestais cada vez menores!
E isso só acontece, porque Arraial presenciou na última década o avanço forte na derrubada de suas matas. Quem conhece a região, percebe a destruição em intervalos de tempo muito curtos. A abertura de novos bairros, a construção de condomínios de luxo e invasões de terras, como a do ano de 2020, entre os bairros Villas do Arraial e Alto da Pitinga, são os principais responsáveis. Com isso, áreas enormes de dezenas ou mesmo centenas de hectares, foram derrubadas, não só no distrito, mas em todo o município de Porto Seguro.
O contato com animais silvestre na zona urbana é cada vez mais comum. Isso mostra a pressão da cidade sobre as áreas naturais. Na imagem, uma preguiça que ficou “ilhada” em um terreno de 600 metros quadrados, tenta passar por uma cerca de arame.


Rua aberta na mata da região do Villas. A cena é cada vez mais comum no distrito e faz com que, ano a ano, dezenas de hectares de mata virem loteamentos e condomínios.
A derrubada das florestas em Porto Seguro passou por altos e baixos nas últimas duas décadas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostram que houve uma redução entre os anos de 2005 e 2010, baixando de 524 hectares para 57 ao final deste período. No entanto, entre 2015 e 2018, os números voltaram a crescer rapidamente. Até 2020, uma área de 1342 hectares de florestas ou o equivalente a 1342 campos de futebol, foram destruídos. Isso representa um aumento de aproximadamente 1000%, comparado ao quinquênio anterior.
Neste mesmo período, medidas do governo federal contribuíram para o enfraquecimento de políticas ambientais, com o afrouxamento de leis e com o desmonte de órgãos de monitoramento, proteção e fiscalização ambiental. Segundo dossiê da Associação Nacional dos Servidores de Carreira de Especialista em Meio Ambiente (ASCEMA)1, somente no governo Bolsonaro, até setembro de 202o (data da publicação), Ricardo Salles, ministro do meio ambiente, emitiu 160 medidas contra a preservação ambiental.

Entre os anos de 1985 e 2015, a Bahia ocupou o terceiro lugar no ranking da derrubada de Mata Atlântica no país, atrás apenas do Rio de Janeiro e Paraná. De acordo com a organização não governamental SOS Mata Atlântica, a cobertura florestal atual no estado corresponde apenas a 11% da original. Já a cidade de Porto Seguro, conta com apenas 30% da sua cobertura original de Mata Atlântica. Isso equivale a quase 74.500 hectares de área desmatada ou quase 100 mil campos de futebol (um hectare é uma área de 10.000 metros quadrados, quase a mesma medida de um campo de futebol). O gráfico mostra o avanço ano a ano em hectares, na derrubada de matas no município de Porto Seguro, entre 2005 e 2020. O ápice do desmatamento neste período aconteceu em 2016. Fonte da imagem SOS Mata Atlântica2: https://www.aquitemmata.org.br/#/busca/ba/Bahia/Porto%20Seguro
Apesar dos ciclos históricos de exploração na Mata Atlântica, como do extrativismo do Pau-Brasil no período pré-colonial, ou na abertura de lavouras de cana-de-açúcar e café em tempos coloniais, muitos áreas com florestas no sul da Bahia ainda guardam características de matas virgens, pouco modificadas pelo homem. A história recente do desmatamento, remonta à década de 70. Naquela época, serrarias de madeira se instalaram na cidade de Eunápolis e passaram a receber as toras das grandes árvores, cortadas em Caraíva, Trancoso, Arraial D’Ajuda, Corumbau. É o que conta Cacique Ipê, liderança indígena, ativista social e ambiental: “Em 78, aqui na região, o pessoal das madeireiras colocou muitas serrarias. Essa região aqui, tudo era mata, de Eunápolis, Caraíva, Barra Velha. Os madeireiros acabaram com tudo! Eles instalavam as serrarias em Eunápolis, mas pegavam madeira aqui na região!”.
As áreas devastadas pelas madeireiras, por sua vez, abriram espaço para a pecuária e outras atividades agrícolas. Este ciclo perdurou até o início dos anos 90, quando a especulação imobiliária ganhou força.
Quem chega ao centro urbano de Arraial D’Ajuda, vindo de Eunápolis ou Trancoso, percebe em um dos lados da estrada a forte pressão do crescimento da cidade e do desmatamento. Do outro lado, uma grande área de floresta ainda se mantém em pé: a reserva indígena da Aldeia Velha, criada no início dos anos 90. Em 93, Ipê reuniu no local um grupo de indígenas para iniciar o povoamento da terra. A primeira tentativa de ocupação foi rechaçada pelo antigo dono da fazenda. Muitas famílias desistiram, mas Ipê não. Ele conta que reuniu um novo grupo em 98 e empreendeu outra ocupação. Ipê fala com orgulho do seu trabalho e enfatiza: “Não tem tanto tempo. Esses bairros que tem aí, tudo era mata, entendeu!? E aí, foram entrando e fazendo rua, loteando…Aqui, se não somos nós que estamos, já tinha acabado tudo!”.
“Em 78, aqui na região, o pessoal das madeireiras colocou muitas serrarias. Essa região aqui, tudo era mata, de Eunápolis, Caraíva, Barra Velha. Os madeireiros acabaram com tudo! Eles instalavam as serrarias em Eunápolis, mas pegavam madeira aqui na região!“
Cacique Ipê: Liderança indígena, ativista social e ambiental

O crescimento dos bairros de Arraial aconteceu de forma lenta. Wiliam Gonçalves Silva, o Wil, professor de história e morador nativo, conta que a partir da década de 70, pessoas com melhor poder aquisitivo compravam e ocupavam áreas mais nobres, como o centro histórico. Com isso, os nativos foram lentamente migrando para as periferias. A medida que a população crescia, aumentava a necessidade de terras para moradia e também o desmatamento.
Naquela época Arraial ainda era um destino turístico pouco conhecido dos brasileiros. Wil lembra essa transição: “A partir da década de 80 pra cá, tudo se modifica, com a chegada dos primeiros estrangeiros e das pessoas que não eram nativas e que chegavam em Arraial D’Ajuda em busca de um lugar diferente, de um estilo de vida diferente…Tudo era encantador na época, tanto para quem chegava, quanto para o nativo, quando recebia uma proposta de venda de casa. Então, aos poucos, minha família foi sendo empurrada pro bairro (Santiago, um dos bairros da periferia). Falar dos bairros do Arraial, era ainda falar de uma parte de mata. Uma parte que era impenetrável pra moradia”. No período ao qual Wil se refere, comprar um terreno em Arraial era tarefa fácil e barata. A proprietária de um imóvel a beira-mar, contou que o falecido marido trocou a propriedade de 2000 metros quadrados por um relógio de luxo. Hoje a mesma propriedade vale milhões de reais.

“A partir da década de 80 pra cá, tudo se modifica, com a chegada dos primeiros estrangeiros e das pessoas que não eram nativas, e que chegavam em Arraial D’Ajuda em busca de um lugar diferente, de um estilo de vida diferente. Tudo era encantador na época, tanto para quem chegava, quanto para o nativo, quando recebia uma proposta de venda de casa. Então, aos poucos, minha família foi sendo empurrada pro bairro (Santiago, um dos bairros da periferia). Falar dos bairros do Arraial, era ainda falar de uma parte de mata. Uma parte que era impenetrável pra moradia”
Wiliam Gonçalves Silva (Wil) é professor de história e morador nativo
Fernando Azevedo, paulistano, chegou em Arraial em 76. Ambientalista e empreendedor, durante a sua trajetória profissional como arquiteto e paisagista, havia a inquietação relacionada à madeira usada nas suas construções. Começou então a produzir mudas de árvores e a plantá-las. Mais tarde, a necessidade de conhecer as espécies que reproduzia no seu viveiro, o levou a procurar o Pataxó Pedro Borges, um lavrador de madeira e conhecedor das matas locais. Pedro fez de Fernando seu aprendiz e passou para ele um riquíssimo acervo de conhecimentos sobre a floresta.
Conversar com Fernando é uma aula de ecologia. Ele chama atenção para algo novo que está acontecendo nas florestas de Arraial: “...Essas árvores estão se extinguindo! Então, a gente pode plantar árvores preciosas que não estão conseguindo se reproduzir na mata alterada. Já tá muito alterado! Por exemplo, se eu for num remanescente de Mata Atlântica aqui, se eu for debaixo de um pé de amescla, tem centenas de filhotinhos. Você vai debaixo de um pé de Pequi, não tem nenhum. Vai debaixo de um pé de Ibiruçu, você não vê! Aquariquara, não tem nenhum filhote.”. Nas suas reflexões, Fernando conta que o motivo disso está na redução das espécies de animais polinizadores, como as abelhas, ou mesmo dispersores de sementes, como morcegos e pequenos mamíferos. Sem esses animais, as plantas não conseguem fazer o cruzamento para a reprodução ou espalhar as suas sementes. Essa constatação, de certa forma é alarmante, pois mostra que a regeneração das florestas não depende exclusivamente da reprodução de mudas e plantio de árvores.
“…Essas árvores estão se extinguindo! Então, a gente pode plantar árvores preciosas que não estão coneguindo se reproduzir na mata alterada. Já tá muito alterado! Por exemplo, se eu for num remanescente de Mata Atlântica aqui, se eu for debaixo de um pé de amescla, tem centenas de filhotinhos. Você vai debaixo de um pé de Pequi, não tem nenhum. Vai debaixo de um pé de Ibiruçu, você não vê! Aquariquara, não tem nenhum filhote!”
Fernando Azevedo: Ambientalista e empreendedor

O advogado, vereador e morador Vinícius Parracho, conta que até os anos 90 era comum que as pessoas se deslocassem entre os lugares, através de trilhas pela mata. Nas décadas seguintes houve um aumento rápido na abertura de novas áreas e vias, transformando o cenário natural. Com isso, o lugar cresceu e perdeu muito do encanto e do ar bucólico que ainda persistem. Nos anos 2000, a procura de imóveis por pessoas vindas principalmente do sudeste aumentou. Nessa época começaram a surgir os condomínios, os grandes empreendimentos e também as ocupações de terras.
Na esteira deste crescimento, a natureza, que é o maior patrimônio de Porto Seguro e o principal atrativo de Arraial D’Ajuda, ficou ameaçada. As praias e florestas, panos de fundo de campanhas de marketing para o turismo e de vendas em grandes empreendimentos imobiliários, são por outro lado destruídas e reduzidas. Ano após ano, um número crescente de pessoas que sonham em ter um espaço para viver em contato com a natureza ou simplesmente para investir, aumenta a demanda por terras. A orla de Arraial, por exemplo, foi ocupada a ponto de não se ver o oceano. Nas porções altas, nas falésias, casas de luxo, condomínios e hotéis crescem aparentemente de forma descontrolada.
De um lado, com o aval da administração pública, alguns empreendedores desmatam áreas enormes. De outro, especuladores, investidores ou simplesmente pessoas que compram o sonho da casa na praia, incentivam indiretamente o desmatamento. Espremida na periferia, a população de baixa renda à procura de espaço, faz tentativas de ocupação, seguidas da derrubada de florestas. Algumas dessas áreas, como a fazenda Tropa Costeira, reconhecida pelos ocupantes como terra devoluta, entram num imbróglio entre a justiça, pessoas que afirmam ter sua posse e famílias à procura de espaço3.

A ocupação no Alto do Villas em 2020, abriu uma clareira de aproximadamente 18 hectares. A retomada de posse da área em 2021, foi seguida pela abertura de ruas em um novo loteamento.
Os problemas não param por aí. Com a expansão do mercado imobiliário, a demanda por recursos naturais, principalmente águas subterrâneas e os restos de obras da construção civil, criam uma equação difícil. A quantidade de lixo e entulhos sem destinação, espalhados a ermo pelo distrito, a redução no regime de chuvas e os eventos extremos, relacionados às mudanças climáticas, formam a tempestade perfeita para os gestores no futuro.
Na contramão deste cenário distópico, Arraial D’Ajuda ainda é cercada por um mosaico de grandes áreas preservadas e protegidas. É o caso do Parque Nacional do Pau-Brasil, da Reserva Biológica do Rio dos Frades e outras pequenas unidades de conservação particulares, conhecidas como reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs). Esses locais garantem refúgio para os animais silvestres que lentamente vão abandonando as áreas mais impactadas.

Imagem de satélite com os bairros e as áreas desmatadas ou ameaçadas em Arraial D’Ajuda, BA. Os locais demarcados são as mais próximas ao centro urbano do distrito. Áreas em risco se estendem para além da imagem mostrada, atingindo outros distritos do município de Porto Seguro. Os números correspondem às dimensões das áreas em hectares (Ha).
Fonte da imagem : Bing Satellite, disponível no software livre QGIS

O Mapa da destruição de Caio Gabrig Turbay está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://drive.google.com/file/d/1d1nJVgJijTgUFcjcUv_Bn2fSB6dI5K_u/view?usp=sharing.
Um trabalho recente, envolvendo um consórcio de universidades no Brasil, entre elas a Universidade Federal do Sul da Bahia4, mostrou que os vários fragmentos de florestas da região ainda abrigam uma rica diversidade de mamíferos. Os pesquisadores observaram inclusive animais de grande porte, como o cervo, a capivara, a anta e até mesmo grandes predadores, com a onça pintada e a onça parda.
Por outro lado, surgem iniciativas de pessoas e entidades que lutam para reduzir os problemas relacionados ao desmatamento e à destruição dos recursos naturais de Arraial D’Ajuda. É o caso da ONG Verdejar D’Ajuda, uma associação sem fins lucrativos que nasceu do sonho de alguns moradores em plantar um milhão de árvores na região. O foco atual das atividades da ONG está no Parque Central, uma enorme área de propriedade da união, encravada no centro urbano.
O “Verdejar”, como é conhecido, começou seus trabalhos de forma discreta, recebendo doações para a compra de insumos e pagamento de mão de obra na produção e o plantio de mudas de árvores de espécies nativas. Recentemente a associação ganhou o seu reconhecimento como pessoa jurídica e já iniciou projetos relevantes, com produção e venda de mudas, capacitação de pessoas e educação ambiental.
Após várias tentativas no cenário ambiental da região, Vinícius Parracho viu na política o caminho mais rápido para lutar pelas pautas que acredita. Com o contagiante idealismo da juventude, ele e sua equipe já propuseram quase uma dezena de leis relacionadas à gestão ambiental no município: “Mesmo que a gente não consiga atingir o que a gente pretende, eu acho temos um cenário favorável. Porto Seguro é uma cidade que por ser turística, a questão ambiental ainda é muito ligada com a questão econômica, diferentemente das cidades industriais, das cidades comerciais. E quando você está no turismo, a questão ambiental é mais sensível né!? Então assim, as pessoas que detém o capital, o controle da atividade econômica, os grandes hotéis, todo mundo está preocupado com o meio ambiente, porque isso vai impactar diretamente na cidade. Eu acho mais fácil implementar políticas públicas ambientais em uma cidade como Porto Seguro e elas podem ser o carro chefe“.
Uma das propostas de projeto pensadas por Vinícius, juntamente com Fernando Azevedo, é o Selo de Imunidade para as grandes árvores na região. A ideia é garantir a proteção das árvores, recebendo os seus serviços ecossistêmicos, ou melhor dizendo, os benefícios ambientais, sociais e até econômicos que elas podem trazer para as pessoas, principalmente o riquíssimo banco de sementes para produção de mudas.

“Mesmo que a gente não consiga atingir o que a gente pretende, eu acho que temos um cenário favorável. Porto Seguro é uma cidade que por ser turística, a questão ambiental ainda é muito ligada com a questão econômica, diferentemente das cidades industriais, das cidades comerciais. E quando você está no turismo, a questão ambiental é mais sensível né!? Então assim, as pessoas que detém o capital, o controle da atividade econômica, os grandes hotéis, todo mundo está preocupado com o meio ambiente, porque isso vai impactar diretamente na cidade. Eu acho mais fácil implementar políticas públicas ambientais em uma cidade como Porto Seguro e elas podem ser o carro chefe.“
Vinícius Parracho: morador, advogado e vereador em Porto Seguro
Nas andanças à procura das sementes, Fernando Azevedo teve a ideia de mapear e inventariar as grandes árvores. Surgiu assim o projeto “As Gigantes do Arraial”. A experiência de Fernando com as árvores se tornou tamanha, que hoje ele conhece uma a uma das muitas das gigantes e se tornou referência até mesmo para cientistas que visitam a região. Ele consegue identificar uma espécie na mata, mesmo sem ver a copa e suas folhas, apenas pela aparência da casca do tronco. Andei com Fernando no seu viveiro, esgueirando-me entre pequenas árvores e bromélias. Ele falava dos nomes científicos e populares das plantas e com um grande sorriso estampado no rosto, mostrou um conjunto de mudinhas que seriam plantadas por crianças no Dia Mundial da Limpeza, que aconteceu no 18 de setembro de 2021.
Encontrei Fernando no Parque Central na manhã seguinte. Um grupo de pessoas, crianças, adultos, professores, trabalhavam em uma área um pouco maior que um hectare. Em um canto, próximo à rua, pessoas separavam e pesavam o lixo coletado. Metais, plástico, vidros e papel eram cuidadosamente armazenados em sacolas grandes e enviados para a reciclagem. No outro canto, uma parte das mudinhas de Fernando já estavam plantadas. Ele gesticulava, apontava para as crianças cada espécie plantada, falando de suas importâncias ecológicas e para o homem. Um carro com caçamba distribuía água em pequenos baldes e galões para o pessoal que regava as plantas. Suados, mas com disposição, eles molhavam uma a uma as arvorezinhas recém colocadas na terra. Erica Munaro, a engenheira florestal do Verdejar D’Ajuda, supervisionava o plantio, orientando as crianças nos cuidados com a transferência das mudas para o chão e no cuidado com as covas. Ao final da empreitada, na hora do almoço, o grupo olhou com orgulho o trabalho feito. As crianças imaginavam como essas árvores estarão quando elas forem adultas. No enorme deserto de incertezas políticas, sociais e ambientais que domina o Brasil no seculo 21, ao menos uma certeza o grupo tem: a de quê sementes foram plantadas no solo, nas mentes e corações das novas gerações, capazes de alavancar um futuro diferente para Arraial D’Ajuda.


Caio Gabrig Turbay é Geólogo, ambientalista e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia. Acredita em um mundo com obras verdadeiras, solidariedade e respeito.
SCANTIMBURGO, André. O desmonte da agenda ambiental no governo bolsonaro. Perspectivas: Revista de Ciências Sociais, v. 52, 2018.
DOS SANTOS, Anderlany Aragão et al. Ameaças, fragilização e desmonte de políticas e instituições indigenistas, quilombolas e ambientais no Brasil. Estudos Sociedade e Agricultura, v. 29, n. 3, p. 669-698, 2021
2- https://www.aquitemmata.org.br/#/busca/ba/Bahia/Porto%20Seguro
http://www.ceama.mp.ba.gov.br/mata-atlantica.html?id=1353
4- MAGIOLI, Marcelo et al. The role of protected and unprotected forest remnants for mammal conservation in a megadiverse Neotropical hotspot. Biological Conservation, v. 259, p. 109173, 2021.
Ótima reportagem!
Adorei!
Muito bom!
Nos dá um horizonte para continuarmos as ações e acreditar que “as se-mentes plantadas estão germinando”.
Obrigado Alan! A ideia é essa! A resistência verde tem que persistir em várias frentes! Isso que eu acredito! Em breve teremos novos conteúdos!
Que reportagem fantástica! Que delícia de ler! Parabéns pela riqueza dos detalhes e das informações!
Obrigado pelo feedback Suely! Em breve teremos novos conteúdos site!
Um super arcabouço de informações e de grande conscientização. Muito bem escrito.
Obrigado Carlos, meu amigo! Um grande abraço!
Parabéns pela matéria! Infelizmente vemos que após mais de um ano a situaçāo descrita em Arraial tem se agravado.
Obrigado pelo feedback Simone!